quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Lenda de S. Martinho


Num Outono que parecia
Mais Inverno começado
Um caminho percorria
Sozinho, certo soldado

Era um cavaleiro valente
Das tropas de Roma senhor
Que na França combatiam
Por mando do imperador

Regressava ao seu posto
Depois de ter visitado
E visto com os seus olhos
O que tinha conquistado.

Seu nome era Martinho
E é aqui recordado
Porque naquele caminho
Viu seu destino mudado.

Dentre sombras e arvoredo
Uma figura se levanta
Que interrompe o seu caminho
E o seu cavalo espanta.

Era um homem quase nu
Que tiritando, tombava
No chão gelado e cru
Que o cavalo pisava.

Apeou-se o cavaleiro
Com estranha ligeireza
Pegou a mão que tremia
De frio e de fraqueza.

Em silêncio, o pedinte
Apenas levanta o olhar
O cavaleiro ergue a espada
E com ela rasga o ar.

O ar… e a sua capa
Que, num gesto retirava
E agora, cortada a meio
Ao mendigo a entregava.

Mal o mendigo se cobriu
Com a capa do soldado
O céu cinzento se abriu
Ficou o sol revelado.

O frio desapareceu
Já não parecia Inverno
O mendigo agradeceu
Com agradecimento eterno.

Tão eterno que ainda hoje
Se vê com satisfação
Que antes de começar o Inverno
Há sempre uns dias de Verão

(Jorge Pimentel, 2005)

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